terça-feira, 30 de junho de 2020

Refluxo Fisiológico X Doença do Refluxo Gastroesofágico

     O que é Refluxo Gastroesofágico?

     Consiste na passagem retrógrada (sentido oposto ao que deveria seguir) do conteúdo gástrico para o esôfago, algumas vezes atinge faringe e boca.

     No recém nascido esse processo geralmente é benigno, parte da fisiologia e maturação gastrointestinal e por isso chamado de Refluxo Fisiológico. Ou seja, não compromete o ganho de peso e o desenvolvimento. De modo geral acaba antes do final do primeiro ano.

     Já ouviram falar no termo "Regurgitador feliz?

     Trata-se do bebê que apresenta regurgitações sem comprometimento do ganho de peso e crescimento. O bebê não apresenta dor, sofrimento ou desconforto por ter regurgitado.

     O que posso fazer para o refluxo fisiológico do Recém Nascido?

1. Manter o recém nascido em posição vertical por 20 - 30 minutos após a mamada a fim de facilitar a eructação e o esvaziamento gástrico. Resumindo COLOCAR O BEBÊ PARA ARROTAR;

2. Colocar o bebê para dormir de barriga para cima com elevação da cabeceira a 30 - 40 graus. Aqui entra o que falei sobre o uso da rampa antirrefluxo. Ajuda muito mesmo, tanto no berço como no trocador.

3. Para bebês em aleitamento materno rever a técnica de amamentação, reduzindo a possibilidade de ingestão de ar. Se for o caso é interessante o aconselhamento com uma consultora de amamentação. Para bebês em uso de fórmula usar mamadeiras antirrefluxo com o objetivo de diminuir a ingestão de ar. Pode ser recomendado também o fracionamento da dieta, ou seja, um volume menor por mamada porém com mamadas mais frequentes (intervalos menores entre mamadas). E nos casos mais complexos pode ser indicado a utilização de fórmulas espessadas.

4. Evitar exposição ao fumo.


     Por que o cigarro contribui para a piora do refluxo gastroesofágico?

     A nicotina diminui a pressão no esfincter esofágico inferior  do bebê facilitando a ocorrência de maior número de episódios de refluxo. 

     Importante que mesmo que seja um processo fisiológico do recém nascido este sempre deve ser acompanhado pelo pediatra que fará as recomendações de maneira específica para cada criança.

     E a Doença do Refluxo Gastroesofágico, como saber diferenciar?

     A doença do refluxo gastroesofágico ocasiona vômitos intensos, dificuldades durante as mamadas, deficit de ganho de peso, choro, irritabilidade, alterações no sono entre outros.
   
      É importante também descartar a possibilidade de alergia a proteína do leite de vaca.
    
     Aqui também cabem aquelas medidas passadas para o refluxo fisiológico, ajudam muito! Porém o uso de medicamentos pode ser necessário. Repetindo, sempre com o acompanhamento de profissionais. Nunca realizem a auto-medicação. 

     Desse modo temos:

1. Inibidores ou neutralizadores da secreção ácida: 
     
     
Aqui entram duas classes:



👉 antagonistas dos receptores da histamina H2

    



 Representada principalmente pela Ranitidina. Deve-se estar atento para o efeito de taquifilaxia, que consiste na perda de ação com o transcorrer do tempo e onde o aumento da dose não melhora a eficácia do tratamento. 







👉inibidores da bomba de prótons



   
Um exemplo é o omeprazol. São em geral primeira escolha para o tratamento, porém apresentam como desvantagem a forma farmacêutica e o custo. Com relação a forma farmacêutica são encontrados como comprimidos dispersíveis por questões de estabilidade. A retirada desse medicamento deve ser sempre de maneira gradual, a fim de evitar efeito rebote.





2. Procinéticos

     De modo geral aumentam o tônus do esfincter esofágico inferior e promovem aceleração do esvaziamento gástrico. Não são muito recomendados na rotina devido a seus efeitos colaterais.

     Bromoprida / Metoclopramida: podem provocar liberações extrapiramidais. 

     Domperidona: mais utilizada em casos difíceis por pouco tempo.





     Em casos mais severos pode ser necessário intervenções cirúrgicas. O acompanhamento frequente do bebê é extremamente importante. Não deixe de levar seu filho ao pediatra. 

      






terça-feira, 16 de junho de 2020

COLIDIS


     


     Oi pessoal! Hoje vim falar especificamente sobre este medicamento e compartilhar um pouquinho da minha experiência pessoal sobre o assunto.
     
     Este medicamento é composto por Lactobacillus reuteri DSM 17938 que são probióticos, ou seja, organismos vivos cuja ingestão em quantidade adequada traz benefícios a saúde.

     Possui indicação na cólica infantil, mas o que é a cólica infantil
     Ápices de irritabilidade, agitação ou choro, que começam e terminam sem causa óbvia. Possuem duração igual ou superior a 3 horas por dia ocorrendo pelo menos 3 dias por semana por pelo menos 1 semana, sem que exista atraso no desenvolvimento.
     São mais comuns nas primeiras semanas de vida, sendo mais intensas entre as 4 e 6 semanas melhorando gradualmente até os 4 - 5 meses. 

     Tenho certeza que quem vive ou viveu se identificou completamente com a descrição! É de partir o coração ver seu bebezinho chorando tanto e se sentir impotente. 

     Muitos estudos realizados concluem que a suplementação com Lreuteri melhora os sintomas da cólica infantil, porém muito ainda precisa ser estudado. Com meu filho ajudou muito. O uso entretanto, não ocorre no momento da cólica, e sim diariamente. Já adianto que leva um tempo para perceber a melhora, cerca de 20 dias. Com meu filho iniciamos o uso com 3 semanas de vida e interrompemos com 3 meses. Vale ressaltar que o uso de qualquer medicamento deve ser feito sempre com a orientação de um profissional.

Posologia:

5 gotas ao dia

Modo de usar:


     
     Esta imagem foi retirada da bula do medicamento. Vale frisar que não se deve administrar com alimentos quentes e observar onde for guardar também. Ou seja em local fresco e arejado sem exposição ao sol e óbvio fora do alcance de crianças. Quando for comprar nada de deixar no carro por longos períodos também, principalmente se for em um dia quente.

     
     Para o meu filho eu pingava as gotas em uma colher e dava para ele. Sem adicionar mais nada. Eu administrava uma vez ao dia antes da mamada.

     Existem medidas não farmacológicas muito úteis no alívio das cólicas infantis, falaremos sobre isso em um outro post. O principal e o mais difícil é manter a calma e ter paciência dar muito amor e carinho e repetir para si mesma o velho mantra "Vai passar". Espero que este post tenha sido útil para vocês. 


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Quebrando tabus - Transtorno Afetivo Bipolar

Fonte: "https://www.entreriosjornal.com.br/coluna-saude-mental-transtorno-afetivo-bipolar-207"

Oi pessoal! A algum tempo atrás já conversamos muito superficialmente sobre este assunto. Hoje volto a falar de uma maneira mais completa pois acreditem, falar sobre saúde mental ainda é tabu na nossa sociedade!
Pensando nisso decidi criar essa linha de post "Quebrando tabus" e hoje será apenas o primeiro assunto. Se alguém quiser algum assunto específico por favor deixe nos comentários.

O que é?

O Transtorno afetivo bipolar é um transtorno de humor caracterizado pela alternância de episódios de depressão, mania ou hipomania. É uma doença crônica.


A síndrome maníaca é um componente fundamental para o diagnóstico.

Mas enfim, o que isso significa?

MANIA

- Principais características:

* exaltação do humor
* aceleração do pensamento com fuga de ideias
* aumento da atividade motora

- Características associadas:

* aumento de energia (com diminuição da necessidade de sono)
* pressão de fala e taquilalia
* irritabilidade
* paranoia
* hipersexualidade
* impulsividade

Na hipomania as alterações são mais moderadas

Os episódios depressivos do transtorno afetivo bipolar são geralmente caracterizados por lentificação ou diminuição de quase todos os aspectos da emoção e comportamento.

Existe o Transtorno afetivo bipolar tipo I e Transtorno afetivo bipolar tipo II.



Qual a diferença?


- Tipo I: apresenta como característica definidora o episódio maníaco podendo ou não haver episódios depressivos.

- Tipo II: caracterizado por pelo menos um episódio depressivo associado a um episódio de hipomania.

O diagnóstico baseia-se em entrevistas médicas com o paciente e a família, com uso dos critérios de diagnóstico para transtorno bipolar.



TRATAMENTO


O tratamento  é complexo, porém se divide basicamente em duas fase.
Fase 1: tratamento do episódio agudo (maníaco ou depressivo) até a remissão dos sintomas de humor.
Fase 2: tratamento de manutenção, ou seja, prevenir a recorrência de novos episódios.

* Tratamento Mania (episódio agudo)

Acho muito importante reforçar novamente, que o diagnóstico é sempre realizado pelo médico e este fará a avaliação quanto ao risco de comportamento agressivo, suicídio, grau de insight (percepção da doença) e capacidade de adesão ao tratamento.
Casos mais leves ou na hipomania, recomenda-se a monoterapia (apenas um medicamento) com um estabilizador de humor (carbonato de lítio, carbamazepina, divalproato de sódio) ou antipsicóticos atípicos aprovados no tratamento da mania (risperidona, olanzapina, quetiapina, aripiprazol, ziprasidona).
Em casos de mania moderada a grave recomenda-se a associação de um estabilizador de humor com um antipsicótico atípico.
Casos mais graves, ou onde não haja a cooperação do paciente podem precisar de medicamento por via intramuscular, ou até mesmo internamento.

* Tratamento da Depressão Bipolar (episódio agudo)

Do mesmo modo que no tratamento da mania, o tratamento da depressão bipolar tem como objetivo a remissão dos sintomas. Há poucas evidências de que os medicamentos antidepressivos tradicionais tenham eficácia para o tratamento da depressão bipolar. Desse modo são considerados como monoterapia de primeira linha o carbonato de lítio, lamotrigina e quetiapina. Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (IRSS) como a fluoxetina, são utilizados apenas em combinação. 


DICAS IMPORTANTÍSSIMAS

- Pacientes com transtorno bipolar que tentam se recuperar de um episódio agudo devem evitar situações ou estressores que desencadeiam emoções negativas fortes. 
- Não devem consumir bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas. 
- Devem procurar cultivar uma convivência com amigos e familiares que dão apoio e desse modo conseguem detectar precocemente qualquer sinal de recidiva. 
- É fundamental lembrar-se de tomar os medicamentos prescritos corretamente. 
- Assegurar uma rotina e horários de sono saudáveis, alimentação adequada e exercícios moderados.


* Tratamento preventivo de longo prazo (manutenção)

Essa fase do tratamento tem como objetivo a prevenção de novos episódios agudos. Para isto se faz o uso de medicamentos por um longo prazo. É muito importante lembrá-los que esta faze depende em grande parte do próprio paciente, no seu autoconhecimento, conhecimento de seu problema de saúde para que haja uma adesão ao tratamento. A não adesão ao tratamento é comumente associada a recorrência.
As opções de terapia farmacológica de manutenção incluem: carbonato de lítio, olanzapina, aripripazol, lamotrigina e quetiapina como monoterapia de primeira linha. Outras opções incluem: carbonato de lítio associado a divalproato de sódio, carbamazepina,  risperidona entre outros. 
No entanto de forma geral, mantem-se durante a manutenção o medicamento que foi eficaz no episódio agudo.

Vamos entender um pouco mais sobre os medicamentos?

Aqui vamos conversar um pouco mais sobre as principais indicções.

* Estabilizadores de humor

--> Carbonato de lítio








Já discutimos bastante sobre este medicamento aqui mesmo no blog.
Fármaco de primeira linha utilizado no tratamento e na profilaxia de episódios agudos tanto maníacos como depressivos do transtorno do humor bipolar.
Deve ser evitado em pacientes chamados cicladores rápidos (que apresentam 4 ou mais episódios por ano), em pacientes com insuficiência renal ,arritmias ventriculares graves, com insuficiência cardíaca congestiva e na gestação.
É importante salientar que pacientes em uso de lítio devem monitorar constantemente os níveis séricos do medicamento.

--> Ácido valpróico, divalproato



É um anticonvulsivante tradicionalmente utilizado na epilepsia, crises de ausência, entre outros. É tão eficaz quanto o lítio no tratamento da mania e mais eficaz em cicladores rápidos.
Deve ser evitado em pacientes que apresentam insuficiência hepática, hepatite e durante a gestação.
As doses diárias variam de 750mg a 2500mg dividido em três tomadas.

--> Carbamazepina






Anticonvulsivante utilizado em diferentes tipos de epilepsia e atualmente vem sendo utilizado no tratamento de quadros maníacos.
É utilizado em pacientes não responsivos ao lítio ou ainda para potencializar o efeito do lítio quando a resposta é parcial, em quadros de agressividade ou descontrole de impulsos.
Contra indicado em pacientes com doença hepática, trombocitopenia ou em pacientes que estejam utilizando clozapina.
Doses diária variam de 400 a 1600mg/dia e devem ser aumentados ao poucos para evitar efeitos colaterais como sedação, tontura e ataxia.


* Antipsicóticos

Divididos em típicos e atípicos.

- Típicos: embora eficazes no tratamento da mania, não demonstram eficácia em tratar depressão bipolar e possuem pouca relevância no tratamento de manutenção.

- Atípicos: são antipsicóticos que demonstram uma menor incidência de feitos colateiras. Alguns exemplos são a risperidona, olanzapina, quetiapina, aripripazol.. Existem muitos estudos comparando a eficácia de cada um. Porém o médico irá definir individualmente o melhor tratamento.







Quero salientar novamente, cada pessoa tem um medicamento ideal para si que não necessariamente é o mesmo medicamento de outra pessoa com o mesmo problema de saúde. O tratamento deve sempre ser individualizado. Por isso sempre seja sincero com seu médico e farmacêutico para juntos discutirem o melhor tratamento para você. Nós falamos em fármacos de primeira linha, mas novamente isso não é uma regra. Cuide de sua saúde, siga corretamente as orientações e utilize de maneira consciente seus medicamentos. 


REFERÊNCIAS

- NICE - Bipolar diorder: assessment and management. Disponível em <https://www.nice.org.uk/guidance/cg185>.

- BMJ Best Practice - Disponível em: <https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/488>.

- CONITEC - conitec.gov.br

- Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas TAB I - Disponível em: <portalms.saude.gov/protocolos-e-diretrizes>.