segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Quebrando tabus - Transtorno Afetivo Bipolar

Fonte: "https://www.entreriosjornal.com.br/coluna-saude-mental-transtorno-afetivo-bipolar-207"

Oi pessoal! A algum tempo atrás já conversamos muito superficialmente sobre este assunto. Hoje volto a falar de uma maneira mais completa pois acreditem, falar sobre saúde mental ainda é tabu na nossa sociedade!
Pensando nisso decidi criar essa linha de post "Quebrando tabus" e hoje será apenas o primeiro assunto. Se alguém quiser algum assunto específico por favor deixe nos comentários.

O que é?

O Transtorno afetivo bipolar é um transtorno de humor caracterizado pela alternância de episódios de depressão, mania ou hipomania. É uma doença crônica.


A síndrome maníaca é um componente fundamental para o diagnóstico.

Mas enfim, o que isso significa?

MANIA

- Principais características:

* exaltação do humor
* aceleração do pensamento com fuga de ideias
* aumento da atividade motora

- Características associadas:

* aumento de energia (com diminuição da necessidade de sono)
* pressão de fala e taquilalia
* irritabilidade
* paranoia
* hipersexualidade
* impulsividade

Na hipomania as alterações são mais moderadas

Os episódios depressivos do transtorno afetivo bipolar são geralmente caracterizados por lentificação ou diminuição de quase todos os aspectos da emoção e comportamento.

Existe o Transtorno afetivo bipolar tipo I e Transtorno afetivo bipolar tipo II.



Qual a diferença?


- Tipo I: apresenta como característica definidora o episódio maníaco podendo ou não haver episódios depressivos.

- Tipo II: caracterizado por pelo menos um episódio depressivo associado a um episódio de hipomania.

O diagnóstico baseia-se em entrevistas médicas com o paciente e a família, com uso dos critérios de diagnóstico para transtorno bipolar.



TRATAMENTO


O tratamento  é complexo, porém se divide basicamente em duas fase.
Fase 1: tratamento do episódio agudo (maníaco ou depressivo) até a remissão dos sintomas de humor.
Fase 2: tratamento de manutenção, ou seja, prevenir a recorrência de novos episódios.

* Tratamento Mania (episódio agudo)

Acho muito importante reforçar novamente, que o diagnóstico é sempre realizado pelo médico e este fará a avaliação quanto ao risco de comportamento agressivo, suicídio, grau de insight (percepção da doença) e capacidade de adesão ao tratamento.
Casos mais leves ou na hipomania, recomenda-se a monoterapia (apenas um medicamento) com um estabilizador de humor (carbonato de lítio, carbamazepina, divalproato de sódio) ou antipsicóticos atípicos aprovados no tratamento da mania (risperidona, olanzapina, quetiapina, aripiprazol, ziprasidona).
Em casos de mania moderada a grave recomenda-se a associação de um estabilizador de humor com um antipsicótico atípico.
Casos mais graves, ou onde não haja a cooperação do paciente podem precisar de medicamento por via intramuscular, ou até mesmo internamento.

* Tratamento da Depressão Bipolar (episódio agudo)

Do mesmo modo que no tratamento da mania, o tratamento da depressão bipolar tem como objetivo a remissão dos sintomas. Há poucas evidências de que os medicamentos antidepressivos tradicionais tenham eficácia para o tratamento da depressão bipolar. Desse modo são considerados como monoterapia de primeira linha o carbonato de lítio, lamotrigina e quetiapina. Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (IRSS) como a fluoxetina, são utilizados apenas em combinação. 


DICAS IMPORTANTÍSSIMAS

- Pacientes com transtorno bipolar que tentam se recuperar de um episódio agudo devem evitar situações ou estressores que desencadeiam emoções negativas fortes. 
- Não devem consumir bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas. 
- Devem procurar cultivar uma convivência com amigos e familiares que dão apoio e desse modo conseguem detectar precocemente qualquer sinal de recidiva. 
- É fundamental lembrar-se de tomar os medicamentos prescritos corretamente. 
- Assegurar uma rotina e horários de sono saudáveis, alimentação adequada e exercícios moderados.


* Tratamento preventivo de longo prazo (manutenção)

Essa fase do tratamento tem como objetivo a prevenção de novos episódios agudos. Para isto se faz o uso de medicamentos por um longo prazo. É muito importante lembrá-los que esta faze depende em grande parte do próprio paciente, no seu autoconhecimento, conhecimento de seu problema de saúde para que haja uma adesão ao tratamento. A não adesão ao tratamento é comumente associada a recorrência.
As opções de terapia farmacológica de manutenção incluem: carbonato de lítio, olanzapina, aripripazol, lamotrigina e quetiapina como monoterapia de primeira linha. Outras opções incluem: carbonato de lítio associado a divalproato de sódio, carbamazepina,  risperidona entre outros. 
No entanto de forma geral, mantem-se durante a manutenção o medicamento que foi eficaz no episódio agudo.

Vamos entender um pouco mais sobre os medicamentos?

Aqui vamos conversar um pouco mais sobre as principais indicções.

* Estabilizadores de humor

--> Carbonato de lítio








Já discutimos bastante sobre este medicamento aqui mesmo no blog.
Fármaco de primeira linha utilizado no tratamento e na profilaxia de episódios agudos tanto maníacos como depressivos do transtorno do humor bipolar.
Deve ser evitado em pacientes chamados cicladores rápidos (que apresentam 4 ou mais episódios por ano), em pacientes com insuficiência renal ,arritmias ventriculares graves, com insuficiência cardíaca congestiva e na gestação.
É importante salientar que pacientes em uso de lítio devem monitorar constantemente os níveis séricos do medicamento.

--> Ácido valpróico, divalproato



É um anticonvulsivante tradicionalmente utilizado na epilepsia, crises de ausência, entre outros. É tão eficaz quanto o lítio no tratamento da mania e mais eficaz em cicladores rápidos.
Deve ser evitado em pacientes que apresentam insuficiência hepática, hepatite e durante a gestação.
As doses diárias variam de 750mg a 2500mg dividido em três tomadas.

--> Carbamazepina






Anticonvulsivante utilizado em diferentes tipos de epilepsia e atualmente vem sendo utilizado no tratamento de quadros maníacos.
É utilizado em pacientes não responsivos ao lítio ou ainda para potencializar o efeito do lítio quando a resposta é parcial, em quadros de agressividade ou descontrole de impulsos.
Contra indicado em pacientes com doença hepática, trombocitopenia ou em pacientes que estejam utilizando clozapina.
Doses diária variam de 400 a 1600mg/dia e devem ser aumentados ao poucos para evitar efeitos colaterais como sedação, tontura e ataxia.


* Antipsicóticos

Divididos em típicos e atípicos.

- Típicos: embora eficazes no tratamento da mania, não demonstram eficácia em tratar depressão bipolar e possuem pouca relevância no tratamento de manutenção.

- Atípicos: são antipsicóticos que demonstram uma menor incidência de feitos colateiras. Alguns exemplos são a risperidona, olanzapina, quetiapina, aripripazol.. Existem muitos estudos comparando a eficácia de cada um. Porém o médico irá definir individualmente o melhor tratamento.







Quero salientar novamente, cada pessoa tem um medicamento ideal para si que não necessariamente é o mesmo medicamento de outra pessoa com o mesmo problema de saúde. O tratamento deve sempre ser individualizado. Por isso sempre seja sincero com seu médico e farmacêutico para juntos discutirem o melhor tratamento para você. Nós falamos em fármacos de primeira linha, mas novamente isso não é uma regra. Cuide de sua saúde, siga corretamente as orientações e utilize de maneira consciente seus medicamentos. 


REFERÊNCIAS

- NICE - Bipolar diorder: assessment and management. Disponível em <https://www.nice.org.uk/guidance/cg185>.

- BMJ Best Practice - Disponível em: <https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/488>.

- CONITEC - conitec.gov.br

- Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas TAB I - Disponível em: <portalms.saude.gov/protocolos-e-diretrizes>.